domingo, setembro 28, 2008

domingo, setembro 14, 2008

marisa ia fazer uma festa

( pub M.A.C cosmetics)


Marisa ia fazer uma festa. Óleos e velas, e coisas assim. Incensos e écharpes transparentes, pelo sofá e a cobrir a cama. Fez as mãos na Cláudia, resistiu ao gel mas escolheu uma cor particularmente brilhante, e sexy, segundo Cláudia. Confiava plenamente nela, nestas coisas que implicavam o embelezamento do corpo. Também resistiu ao estilo brasileiro de remoção capilar, mas desta vez as suas virilhas ficaram mais desertas que nunca. Sentia-se um pouco nua. Cláudia, adivinhando-lhe os pensamentos disse que era esse o objectivo.


Lera todo o tipo de dicas na internet e em revistas femininas. Era um novo mundo que surgia diante dos seu olhos, onde se sentia hesitante e a pisar em falso. Agora sabia uma montanha de informações acerca de comidas e massagens, vendas e algemas felpudas, e conhecia um leque variado de vestuário em cabedal. Ainda pensou em comprar umas calças em couro preto, mas no provador sentiu-se tão apertada e desconfortável que decidiu não as levar. Além disso, não tinha nada para
condizer , e comprar umas calças para usar só uma vez não valia a pena.

Estava um pouco comprometida quando teve de ir à drogaria comprar um queimador de incenso. Esquecera-se completamente de o incluir na lista das compras do Hipermercado. Ainda pensou em desistir desta compra, mas tinha ouvido tantas maravilhas a respeito, que preferiu arriscar o encontro com o Sr. António. Em frente ao balcão, tremeu-lhe a boca ao pedir o objecto e quase pode jurar que ele fez um sorrisinho com os olhos, num esgar de escusada cumplicidade. A ida dele ao armazém pareceu-lhe uma eternidade, e Marisa ainda considerou em aproveitar aquela ausência para fugir, mas os nervos congelaram-lhe qualquer tipo de movimento. Ele regressou com três modelos; dois de madeira em simples, e um de barro com mosaicos de espelho incrustados. Sabia perfeitamente que era aquele último que deveria escolher. Mas não conseguiu. Sentia-se observada, e com os pensamentos devassados. Era tudo demasiado óbvio. Latejantemente óbvio. Optou por um dos madeira. Pagou o que tinha a pagar e, por entre escadotes e cremes nívea, saiu rapidamente da loja. Já cá fora, desceu rapidamente a rua com a boca seca e o coração aos saltos.

Tudo estava em ordem, a casa estava diferente, vibrante. Marisa fazia um esforço enorme para não imaginar o que a mãe diria daquilo tudo. Os pais estavam para o norte, até segunda não regressariam com certeza, mas subitamente deu por si a pensar nas várias possibilidades que fariam os pais regressar. Não, era impossível eles regressarem antes do tempo, nunca tal acontecera.

Sentia o peito comprimido e alertou-se ao ver as velas acesas em redor dos cortinados da mãe. Um incêndio seria o derradeiro castigo. Começou a sentir-se enjoada, com a cabeça à roda, e apagou os pauzinhos de sândalo debaixo de água. Havia agora cinza pelo chão, que rapidamente começou a limpar. Os sapatos de salto fino não se coadunavam com a tarefa e descalçou-se. Calçou as pantufas de pelo azul bebé. De súbito sentiu-se tão triste, só lhe apetecia chorar. Nunca devia ter feito aquilo tudo, tinha sido uma estupidez e o soutien que trazia vestido era dois números a baixo do seu. Achou-se gorda debaixo da camisa de cetim. Sentou-se no sofá, derreada, com a caixa de bombons no colo. Enviou ao namorado uma mensagem escrita a dizer que ele não viesse, que estava com um ataque de alergia, sem conseguir sair da cama.

O que não era completamente mentira.