sexta-feira, maio 29, 2009

celebremos

Palma de Ouro para João Salaviza com ARENA

domingo, maio 17, 2009

a visita

(Feira da Luz, 2006)

A visita correu bem. Sem enjoos e solarenga.

Combinaram um café para Maio do ano que vem.

terça-feira, maio 12, 2009

à beira guichê

A Senhora das finanças informou-me que tenho um filho.
Disse-lhe que não, que não tenho filhos.
Mas ela insiste que sim, que está no Sistema.
Também me disse que fiz o IRS em 2001, na Amadora.
Disse-lhe que não, que era impossível.
Mas está no Sistema, e olhou para mim com um ar muito compenetrado.
E perante tal Sistema omnisciente, limito-me a citar o meu caro O´Neill. (Enquanto não resolvo um problema à beira guichê eventualmente grave).
que à beira-guichê é assim a vida.

segunda-feira, maio 11, 2009

por realizar

Gota D´Agua (de Chico Buarque e Paulo Pontes),
agora no Porto, dia 20 deste mês.

quinta-feira, maio 07, 2009

tatuado


Lucas trazia Lucyvânia tatuada no antebraço direito. A letra estava inclinada para a direita como se alguém a tivesse escrito com um aparo. Aquele antebraço transbordava amor. Duas horas de concentração e dor valiam bem o objectivo de tornar aquele sentimento perene. E o sentimento era inclinado como a letra da tatuagem, varrendo o seu peito como uma brisa quente e suave.

Conhecera-a três meses antes de vir para Portugal. Foi num baile, em Porto Galinhas, num dos bailes que se realizavam todas as quintas feiras à noite na Associação Harmonia Nordestina. Ele nunca falhara um baile e no entanto, a tinha visto por ali. Ao princípio não tinha reparado nela mas passado algum tempo foi inevitável porque ao contrário do resto do grupo, a sua maneira de dançar não obedecia a regras. Ela não respeitava os passes das coreografias, reinventando-se ora em movimentos ousados, ora noutros difíceis de categorizar.
Passou algum tempo a observá-la de longe, e lentamente foi-se aproximando até conseguir perceber os pormenores do seu decote e a cor das suas madeixas. Depois dirigiu-se ao seu ouvido e perguntou-lhe onde é que ela tinha aprendido a dançar, ela respondeu que em lado nenhum e continuou a rodar as ancas. Depois perguntou-lhe se podia saber o seu nome, ela disse que ele podia e ele ficou à espera da resposta. Ela olhou-o por debaixo do Eyeliner Starlight Green, fixando-o nos olhos por alguns segundos, e disse: Luciana. Mas a música não contemplava quaisquer conversas e o forró continuou acelerado em som e ritmo. Ele percebeu Lucyvânia e achou lindo. Sentiu-se imediatamente abençoado com aquele aconchego de realidade, e acreditou que o destino lhe estava a providenciar o caminho para conseguir tudo com que sempre sonhara.
Vou buscar uma bebida, disse ele e perguntou-lhe se ela queria alguma coisa. Uma Diet Coke, respondeu, tentando reproduzir na perfeição a pronúncia anglo-saxónica. Ele foi até ao bar e encontrou Marcelo, o amigo. E aí? Perguntou-lhe este. Cara, respondeu-lhe Lucas e pediu a cerveja e a Diet Coke. Bebeu dois goles grandes da cerveja acabada de tirar e passou o copo ao amigo, sem dizer nada. Depois pegou na Coca-Cola e voltou para o meio do salão, indo ter directamente à coluna onde a tinha visto a primeira vez. Mas o grupo já não estava naquele sítio. Começou a percorrer a sala, fixando-se em cada mulher que aparecia. O copo transbordava, ao circular por entre ombros e costas, ia perdendo o líquido que continha e as suas calças brancas estavam salpicadas de refrigerante. Luciana já não estava na sala, nem ela, nem as suas amigas, nem a sua dança.

Voltou para junto do amigo que se mantinha a beber e a olhar para as mulheres dos outros que, para ele, dançavam sempre para si . Marcelo pousou o copo e perguntou-lhe o que tinha acontecido, se tinha acontecido alguma coisa. Ele respondeu que queria sair dali. O amigo seguiu-o até à porta escancarada, resignado com o fim abrupto da noite. Lá fora fumaram um cigarro em silêncio. Havia pouca circulação, alguns casais saíam dos carros, alguns casais entravam nos carros. A noite estava quente e o pó do chão colava-se aos pés pouco calçados. Demoraram algum tempo a encontrar a carrinha porque nem um nem outro se lembravam onde a tinham estacionado. Acabaram por encontrá-lo no sítio onde sempre o deixavam, na direcção do sentido da marcha como convém aos finais de noite.

Os vinte quilómetros seguintes foram feitos em silêncio, interrompido apenas pelas lombas do caminho. Começaram a avistar-se as luzes do hotel. Poucas, apenas as da entrada que ficavam encaixadas em seis palmeiras de boas vindas. Não havia luzes em nenhum quarto, e a única movimentação que se via era no recinto da discoteca exterior. Arrumavam-se copos e limpavam-se mesas, na parcimónia do calor da noite. Estacionaram o carro no local devido e foram directos aos quartos do pessoal. Entraram sem ligar as luzes, conhecedores do espaço que partilhavam há anos. Lucas não dormiu e fixou o olhar na réstia de noite que se mostrava entre o estore de madeira leve.

Na manhã seguinte o dia começou como normalmente. Fardamento, pequeno-almoço na cantina, e entrada para o lobby com um sorriso tropical. Enquanto comiam Marcelo perguntou-lhe o que tinha acontecido ontem, se tinha acontecido alguma coisa. Às vezes irritava-o o facto do amigo nunca perceber à primeira o que se passava. Conheci uma garota, disse-lhe passado algum tempo. Gostosa? Perguntou-lhe de novo Marcelo. Não é isso não. Marcelo fitou-o. Você não tá me entendendo, e a conversa terminou por ali.

Era dia de caiaque, o que significava percorrer trinta quilómetros de carrinha até à praia, depositar os hóspedes na areia branca e resguardar-se no bar até à hora do almoço. O grupo era composto por quatro casais portugueses apaixonados pela água e pelo sol. Todos usavam aliança e pareciam realmente felizes. Conversavam sobre casas e carros, e tinham muitos planos. Tinham um bom emprego e dois dos homens tinham a sua própria empresa. Uma das mulheres tinha acabado de ganhar uma comissão estrondosa por ter conseguido vender uma casa de quatro assoalhadas com lareira. Ele nunca tinha visto uma lareira na vida, mas a palavra soava-lhe bastante bem. Caminhavam de mão dada e pareciam estar a divertir-se muito.
Deixaram a roupa pela areia e seguiram para os caiaques, Lucas deu-lhes as orientações necessárias e ajudou-os a vestir os coletes salva vidas. Depois foi ao bar e pediu uma cerveja, que engoliu rapidamente pedindo outra a seguir. O Português chegava-lhe de longe aos ouvidos envolvendo-o numa estranha tranquilidade. Perguntou ao amigo e dono do bar se ele conhecia uma rapariga chamada Lucyvânia, o amigo pensou e concluiu que não. A vida é uma passagem, disse ao amigo. É mesmo rapaz.

O grupo de Portugueses continuou a percorrer a pequena praia de canoa, até se cansar. Depois largaram as canoas na areia e dispuseram-se pelo areal com aquela felicidade estampada pelo corpo inteiro.

As terças e as sextas-feiras eram os dias em que animava as noites no hotel. Dançava, cantava e motivava os vários grupos que diária e impreterivelmente se dirigiam ao recinto da discoteca. Cada pessoa trazia consigo uma pulseira impermeável e fluorescente no pulso. O adereço de plástico dar-lhes-ia acesso a tudo aquilo que desejassem, fome, tédio, sede, não seriam um problema.
Lucas vestiu a sua t shirt branca com dobras nos braços. Vestiu as calças beges e pôs o cinto com a fivela metálica e grande que dizia Lee. Calçou as botas de biqueira comprida e passou gel no cabelo, trabalhando-o de modo a isolar cada onda. Olhou-se ao espelho, encolheu a barriga e estalou os dedos um por um. Apercebeu-se que contrariamente ao habitual, não estava minimamente entusiasmado com o programa da noite. Não se sentia especialmente bonito nem estava a achar os seus bicípites os mais sensuais que todo o resort. Naquele momento em que se olhou ao espelho não sentiu absolutamente nada e parecia ter sido atingido por uma inércia totalmente incapacitante.



(continua,
aqui ou sem ser aqui)

segunda-feira, maio 04, 2009

legado indie 09

Passeio de Domingo, José Miguel Ribeiro



The Herd, Ken Wardrop



Encounters at The End of The World, Werner Herzog