sexta-feira, março 27, 2009

até setembro


Estreou dia 20.
Por cá aguardemos...até Setembro.

quinta-feira, março 19, 2009

quando era pequena

(Mi hijo dormindo, Merello, 2000)


Felipa achava que a avó tinha a idade do Mundo, porque um dia perguntou-lhe quantos anos tinha e a avó falou-lhe em lobos e neve. Contou-lhe que quando era pequena a água congelava dentro de casa e, que às vezes tinha tanto frio à noite que se mantinha acordada a limpar a tirar as teias de aranha. Quando o céu mostrava um pouco de claridade saía logo para o exterior, dava milho às galinhas e talos de couves ao porco. O porco gostava de mim – disse-lhe a avó – conhecia-me e ficava muito quieto enquanto eu entrava no curral, depois quando eu saía ficava a chiar muito contente e comia tudo num instante. Era um bom porco.

Felipa não percebia como é que se conseguia ficar a noite acordada a tirar teias de aranhas do tecto. Um dia, que estava a chover lá fora, quis experimentar. E a mãe foi encontrá-la a dormir por cima da colcha, junto à vassoura da cozinha. Felipa vivia fascinada com o mundo maravilhoso da avó. Às vezes, enquanto mordia o lápis de carvão, viajava para aqueles sítios de abóboras e nêsperas, e sentia o milho fresco debaixo dos pés. Depois voltava à sala de aula, aos centímetros, aos decímetros, e aos triângulos isósceles.
Rita era a sua colega de carteira e melhor amiga, e não tinha avó. Vivia com os pais e o irmão num prédio enorme que tinha uma campainha com uma câmara. Tinha uma grande colecção de sapatos e mochilas, e o pai era dentista e trazia pacotes de pasta de dentes para casa. Felipa não compreendia porque é que a amiga não tinha avó. Porque não tenho – respondia-lhe – porque já morreu. Isso é muito triste – dizia Felipa, e continuava a pentear a Barbie.

Um dia, Felipa, depois da lição de português, disse à amiga que lhe queria mostrar uma coisa. Foram as duas de mochila às costas até à rua da casa de Felipa. Geralmente não brincavam lá porque não havia espaço suficiente para montarem o cabeleireiro da Barbie, o escritório, e a clínica veterinária.

Anda – disse Felipa. E entraram as duas para dentro de um pátio cheio de janelas e vasos de plantas. Por aqui – disse Felipa – e seguiram por uma porta que não estava trancada. A casa estava em silêncio. Felipa guiou a amiga até a última porta do minúsculo corredor. Espera – disse Felipa – e abriu a porta, que chiou baixinho. Uma réstia de luz coada pelas cortinas de rendas entrava pelo quarto, tornando feérico um copo de água na mesa de cabeceira. O que é aquilo? – perguntou-lhe a amiga. Shiu – disse Felipa – são os dentes dela. Rita olhou aterrorizada para o copo, depois para Felipa, e finalmente correu disparada para a porta da rua, a gritar muito. A avó moveu-se ligeiramente debaixo do cobertor, e disse qualquer coisa. Felipa respondeu-lhe que não se preocupasse, que ainda era cedo. E tornou a encostar a porta.

quinta-feira, março 12, 2009

e ainda

A Senhorita em "Riso Amaro", 1949

porque sim

Senhorita Mangano