segunda-feira, abril 30, 2007

a mulher segredo


A Mulher Segredo olha-se ao espelho. O que vê não reconhece, e chora. Compreende agora que a comunhão com todos os cantos das paredes, de nada lhe valeu. Não sabe se o que disse foi realmente dito, ou ouvido, ou sonnhado. Foi alguém que lhe contou?

As suas costas estão fatigas de tanto perguntar. Tenta pôr o peso das Recordações debaixo da cómoda pequena.

Procura bem - disse-lhe uma vez, um amigo - procura amiúde, explora, investiga, não te detenhas por Coisas Pequenas. As pessoas são Coisas Pequenas, tão pequenas como os mistérios das civilizações.

Na altura, parecera-lhe muito certo, tudo aquilo. Visão sábia, pensou. Apeteceu-lhe escrever tudo, palavra por palavra. Para não esquecer e encontrar, mesmo na altura em que mais precisasse.

Essa altura chegara e, com o papel na mão, lia e relia à espera de uma Luz, de uma aparição feliz. Mas só conseguia sentir o peso das próprias costas.

Acabou por adormecer.
Com restos debaixo da mesa e uma folha, velha e amassada, na mão.

quinta-feira, abril 26, 2007

sapatinhos


Há um refrão de uma música que diz

amanhã vai ser outro dia,

amanhã vai ser outro dia...
Rejubilemos pois com a diversidade dos dias.
E não só.

sexta-feira, abril 20, 2007

dizquessim




O mundo avança. O verniz estala.


Diz que há solução para tudo.


E que a unha de gel não descola assim tão facilmente.


Acreditemos.


domingo, abril 08, 2007

cruzamento


No cruzamento onde se encontram os Leopardos Nebulosos, passam-se coisas alheias ao resto do Mundo. Problemas Morais e Dúvidas, do resto do Mundo, são ali debatidos com a veemência própria de um tribunal.
Os casos difíceis, como Dilemas e Conflitos, não passam despercebidos, exigindo medidas mais dramáticas e, quase sempre, consensuais.

O Leopardo Nebuloso é um animal de tacto apurado. E, há quem diga, Virtuoso. Se assim não fosse, perigo era, se tais assuntos lhe passassem pelas mãos.

Em tempos, quando a estrada nem alcatrão tinha, tudo se tornava bem mais complicado.
(no tempo das Palavras Engolidas, nem tudo era o que parecia ser).

domingo, abril 01, 2007

tipo francês


Julieta morreu. E nada há a fazer. Não se sabe se está feliz ou infeliz, porque já não sorri. Não que fosse importante saber o que lhe vai na alma, mas sempre ajudava para saber se a vida tinha, afinal, valido a pena.

Seja como for, trata-se da vida de Julieta e de mais ninguém.


- Sempre lhe disse que mastigasse bem as amêndoas...

- Deixe, ao menos morreu feliz.

senhorita abril


Transição entre o frio e o quente. Frescura de primavera. Menina Audrey.