quinta-feira, março 27, 2008

I put a spell on you




A rapariga estava petrificada. Sem reacção. Movimento ou raciocínio.
Então, é apenas uma música! Disse ele.

Nem pensar. A música continuava a rodar e nada acontecia. Todos dançavam, absortos num mundo estranho e difícil de explicar. Ninguém parecia importar-se com o que estava a acontecer, simplesmente não era possível. A energia era demasiada, não dava para parar, e os olhos ou estavam fechados, ou abertos não conseguiam ver.

À medida que as músicas iam mudando, a vibração do grupo aumentava. Com a certeza de ali estarem, com a certeza do som que se repetia.
A rapariga permanecia imóvel.

Já passou…Queres água? É apenas uma música… Disse ele.
Mas habituada a acreditar no que lhe diziam, sentia-se enfeitiçada. Uma estátua humana, de vestido curto e cabelo armado.

Que tenho de fazer? Perguntou ele. Mas ninguém sabia.
Muito menos ela.

sexta-feira, março 21, 2008

primavera


(muito pequeno poema)

O Inverno acabou, disse o homem. E debaixo da janela está um monte de coisas inúteis.


Os animais chegam em busca de calor.
Os animais partem à procura do ar frio.

Milhares de pequenas penas caiem no parapeito da minha janela, disse o homem. Os pássaros viajam, por aí. Procuram, por aí.

O céu está diferente porque penso nisso, reflecte o homem. Afinal azul, como sempre esteve.

Surgem cores por aí.

segunda-feira, março 17, 2008

"tudo começou com uma cadeira"


Juno


Há filmes que têm de ser vistos. É o caso.

domingo, março 16, 2008

o cão

(Ay O, stone scissors paper, 1971)


O Cão estava debaixo do enorme edifício. Lá em cima, a cerca de 20 metros, o que é bastante para um cão, erguia-se um gigantesco néon azul, a anunciar O Centro Comercial.



Habituado a olhar para o chão, não se deu conta da evidência, que se situava acima das suas orelhas pretas e caídas. Preocupava-se antes, a farejar o caminho de saída porque toda aquela zona era deveras complicada e sobretudo, com pessoas a mais.


Ele gostava de pessoas, mas é preciso manter uma certa distância de vez em quando, e então sendo assim tantas, ainda se torna mais necessário.



Estava portanto muito confuso, sem sair do mesmo lugar.
Por vezes levantava uma orelha, que caía logo a seguir, provavelmente devido à genética e ao hábito de a ter assim, caída.
Como é óbvio, ninguém lhe ligava nenhuma. Ninguém percebia que ele ali estava, que existia.



As pessoas iam passando com os seus sacos, para os seus carros.
Não era suposto estar ali um cão. Muito menos um cão sem rumo.

sexta-feira, março 14, 2008

paz

(designforpeace)

Pequena referência a esse estado de alma.

domingo, março 09, 2008

caramel



Tudo se passa num cabeleireiro.


Não é Almodovar, dá ares. Não interessa.


Beirute, Mulheres, Alá, Nossas Senhoras, Vernizes Berrantes, Dores, Desejos e Caramel (não vou dizer o que é...).


A Ver.

segunda-feira, março 03, 2008

mariana tenta adormecer as ideias

(Duma, Ainda Não Sei, data?)



Mariana começava a sentir sono. O torpor invadia-lhe o corpo como uma manta pesada e macia. não sentia quase nada, só o fechar de ideias, olhos, e pensamentos.

Tudo se sublimava e como era bom. Parecia ser. As Coisas, aos poucos, iam-se descolando da sua cabeça, deixando mesmo de existir.

O sofá parecia o alvo perfeito, que em comunhão com tudo o que não sentia, ia fechar todos circuitos - não dar/ não receber.

Amanhece, e Mariana no sofá.

O sol acordado bate-lhe na cara, e indica-lhe que é um dia diferente do anterior. Ela sente aquele calor, mas finge que nada se passa.

O sol foi subindo, subindo, até ser inequívoca a sua presença.

Mariana deixa-se estar contorcida no sofá e fixa a janela.
Olha para a luz, todas as ideias voltam a tomar o seu lugar.