domingo, março 16, 2008

o cão

(Ay O, stone scissors paper, 1971)


O Cão estava debaixo do enorme edifício. Lá em cima, a cerca de 20 metros, o que é bastante para um cão, erguia-se um gigantesco néon azul, a anunciar O Centro Comercial.



Habituado a olhar para o chão, não se deu conta da evidência, que se situava acima das suas orelhas pretas e caídas. Preocupava-se antes, a farejar o caminho de saída porque toda aquela zona era deveras complicada e sobretudo, com pessoas a mais.


Ele gostava de pessoas, mas é preciso manter uma certa distância de vez em quando, e então sendo assim tantas, ainda se torna mais necessário.



Estava portanto muito confuso, sem sair do mesmo lugar.
Por vezes levantava uma orelha, que caía logo a seguir, provavelmente devido à genética e ao hábito de a ter assim, caída.
Como é óbvio, ninguém lhe ligava nenhuma. Ninguém percebia que ele ali estava, que existia.



As pessoas iam passando com os seus sacos, para os seus carros.
Não era suposto estar ali um cão. Muito menos um cão sem rumo.

Sem comentários: