segunda-feira, abril 30, 2007

a mulher segredo


A Mulher Segredo olha-se ao espelho. O que vê não reconhece, e chora. Compreende agora que a comunhão com todos os cantos das paredes, de nada lhe valeu. Não sabe se o que disse foi realmente dito, ou ouvido, ou sonnhado. Foi alguém que lhe contou?

As suas costas estão fatigas de tanto perguntar. Tenta pôr o peso das Recordações debaixo da cómoda pequena.

Procura bem - disse-lhe uma vez, um amigo - procura amiúde, explora, investiga, não te detenhas por Coisas Pequenas. As pessoas são Coisas Pequenas, tão pequenas como os mistérios das civilizações.

Na altura, parecera-lhe muito certo, tudo aquilo. Visão sábia, pensou. Apeteceu-lhe escrever tudo, palavra por palavra. Para não esquecer e encontrar, mesmo na altura em que mais precisasse.

Essa altura chegara e, com o papel na mão, lia e relia à espera de uma Luz, de uma aparição feliz. Mas só conseguia sentir o peso das próprias costas.

Acabou por adormecer.
Com restos debaixo da mesa e uma folha, velha e amassada, na mão.

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