quarta-feira, janeiro 03, 2007

para marylin


André Derain. Charing Cross Street. 1905-06.

Aquela perspectiva feita de árvores e alguma luz diz-me coisas. Diz-me que, apesar de todas as luzes ali vivem, se sente sozinha e tão infinita como a idade do chão. Diz-se esquecida entre o princípio e o fim.

Sonha muitas vezes com a queda, de uma ou outra árvore, e tem medo porque não sabe se quer essa liberdade, essa fuga.

Está sempre a calcular as luzes e as sombras para se apresentar em plenos ângulos, que permitam ver aquele começo (que não se pode delinear), e aquele fim (que parece fugir cada vez mais).

Uma dessas noites de lua alta contou-me que nada lhe era generoso. As margens que a faziam viver não tinham as árvores coordenadas, e as copas frondosas voavam quase sempre para lados opostos.
Sentia-se cansada. Eu ouvia com atenção tudo o que dizia, com ânsia de poder ajudar.
Um dia, disse-me: "não te preocupes". Estava tudo bem outra vez, e a luz entrou como sorriso.

Logo começava a falar naquele dia, em que a luz entrou forte e o vento amainou em vénia. E falava do verde, do chão, e dos troncos. Consolava-se a contar-me os dias felizes que, por vezes, aconteciam. E ficava tão brilhante.

3 comentários:

El-Gee disse...

nao tenho comentarios propriamente ditos, so vim dizer que gostei.

joana pais de brito disse...

dizer que se gosta é um comentário propriamente dito.

El-Gee disse...

é, sem duvida. sublinho a tua frase. (ia dizer "retiro o que disse", mas depois nao poderia sublinhar a tua frase, porque se refere a algo que teria entretanto sido retirado.)