segunda-feira, agosto 11, 2008

esperar que derreta

(Parvati Melton)


Irene sentia vontade de pegar num carro e rumar ao desconhecido, mas a adversidade de não ter carta de condução não lhe permitia satisfazer o desejo.Pensava o quão maravilhoso é ter uma família e saber com o que contar. Pensava no que seria se estivesse sozinha no Mundo, como a Grã-duquesa Anastasia à procura dos pais e da avó. Reflectia seriamente até que ponto não era um pecado estar, por momentos, a preferir não ter ninguém. Não queria saber dos problemas dos outros, nem das limitações, nem das vontades. Estava farta. Fartinha até à última ponta, do último cabelo. Quer dizer asneiras mas não pode, porque está num sítio onde não se podem dizer asneiras. Também não pode gritar ou destruir coisas. Resta-lhe pouco para fazer, a não ser fixar um ponto na janela à sua frente, e esperar que ela derreta.

2 comentários:

Laulau disse...

Irene. Abre a janela e sai dessa casa! Já dizia o Chico... Quem espera nunca alcança...

joana pais de brito disse...

Irene depois saiu e tudo correu pelo melhor...